Música sertaneja pedida em rádio do RS servia de código na fraude do leite
A fraude foi comprovada por meio de análises químicas do leite cru. O formol foi encontrado no produto final mesmo depois dos processos de pasteurização
Investigados no núcleo de Ibirubá usavam preferencialmente ritmo sertanejo.
Operação Leite Compensado investiga adulteração no produto no RS.
A comunicação entre integrantes do esquema de adulteração de leite no núcleo de Ibirubá , na Região Noroeste, era feita muitas vezes através do rádio. Conforme o promotor Mauro Rochenback, a alternativa era utilizada porque o sinal de celular na região é ruim. O artifício era usado principalmente para a comunicação com caminhoneiros do transporte do produto. A música pedida, com dedicatória, servia como código.
"Eles tinham esse código. Como na região existe dificuldade em falar por telefone, eles usavam esse recurso para se comunicar. Ligavam para a rádio e diziam que queriam oferecer uma música para tal pessoa, e aí aquela pessoa sabia para onde tinha que ir, ou então para onde não poderia ir", disse o promotor."Eram preferencialmente músicas sertanejas", completou.
No entanto, Rochenback entende que essas escutas não sejam parte importante na investigação. Ele recebeu a informação das escutas, mas ainda não ouviu a gravação. "Não escutei ainda, não faz muita diferença, não tem as identificações", acrescentou.
'Virou motivo de piada', diz radialista
Acostumado a tocar música sertaneja na Rádio Amizade FM, em Ibirubá, o radialista Carlos Cézar se surpreendeu ao saber que as ondas da emissora eram usadas para maquiar o esquema de fraude no leite, revelado pelo Ministério Público nesta semana. Apesar de ser a mais tocada em alguns momentos, ele garante nunca ter desconfiado que "Caminhoneiro", de Chitãozinho & Xororó, poderia servir como senha para avisar motoristas de caminhão sobre a presença de fiscais.
"As pessoas pedem a música e normalmente dedicam para alguma pessoa. Nesse caso, dedicavam para amigos. Essa música era bem frequente, estava entre as mais tocadas em alguns momentos. Mas a gente nunca desconfiou" , relata o radialista ao G1 . "O assunto está repercutindo bastante na região. Virou motivo de piada entre os moradores", conta.
Apesar dos pedidos de música não levantarem suspeitas, o esquema de fraude no leite já era um assunto que preocupava a comunidade antes das investigações do MP.
Adulteração em Ibirubá era feita perto de porcos
A água adicionada ao leite em Ibirubá vinha de um poço artesiano e nem sequer era tratada. Do galpão de um sítio, o produto seguia para os postos de resfriamento. A movimentação nos sítios onde a fraude acontecia era maior à noite, quando caminhões deixavam os locais discretamente, acompanhados de batedores (saiba mais no vídeo).
No mesmo local onde são criados porcos, funcionava um galpão onde a água e a ureia eram misturados ao leite, que eram posteriormente armazenados em caminhões sem qualquer refrigeração. O ambiente é sujo, de chão batido, e sem qualquer condição de higiene. A ureia era acrescentada ao líquido em forma de pó e contém formol, uma substância cancerígena.
Cinco ficam calados em depoimento
Seis suspeitos presos compareceram ao Ministério Público de Tapera , também no Noroeste do estado, na manhã desta sexta-feira, para prestar esclarecimentos dentro da Operação Leite Compensado. Segundo o promotor Mauro Rochenback, cinco deles preferiram não falar. O sexto disse que não sabia da fraude e nem desconfiava.
A entrega da denúncia à Justiça foi adiada para a próxima semana. Pelo menos 12 pessoas devem ser denunciadas, segundo o promotor.
Marcas foram notificadas
A Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça (Senacon) notificou as empresas Italac, Mu-mu, Líder e Latvida para prestarem esclarecimentos sobre o envolvimento na operação. Elas terão prazo de 10 dias, a partir do recebimento da notificação, para apresentar a documentação técnica e laboratorial necessária ou o recall imediato dos produtos envolvidos, nos termos do Código de Defesa do Consumidor.
Multas de R$ 15 mil reais foram destinadas às empresas. "O consumidor realmente tem que cobrar dos órgãos de fiscalização para que as indústrias passem a fazer as análises de forma rotineira para prevenir a entregada de produtos nessas condições ao mercado",da Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul, divulgou uma nota técnica com orientações disse o promotor de Justiça Alcindo Luz Bastos Filho.
Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV) tranquilizou a população e afirmou que todos os produtos disponíveis no mercado atualmente estão em "perfeitas condições de consumo". O Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), sobre a intoxicação por formaldeído, substância encontrada nos lotes não recomendados para consumo.
Na quinta-feira (9), o CEVS determinou a retirada do mercado de todos os lotes de leite integral da marca Latvida feitos a partir de 1º de abril de 2013. Confira aqui a lista completa .
Segundo o CEVS, a intoxicação por formaldeído por ocorrer por inalação, ingestão e contato com pele e olhos. O órgão orienta quem apresentar os sintomas a procurar atendimento médico, contatar a Vigilância em Saúde do município onde mora ou ligar para o Disque-Vigilância do CEVS pelo telefone 150, e manter o produto na embalagem original na geladeira. Quem tiver embalagens fechadas dos produtos dos lotes não recomendados para consumo deve guarda-los e comunicar Ministério Público pelo e-mail consumidor@mp.rs.gov.br
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